Indústria da moda é a que mais gasta água a nível mundial, depois da agricultura6 min read

Diz a Moody’s Investors Service que a indústria da moda utiliza 10% do abastecimento industrial de água e os têxteis de acabamento são responsáveis por 20% da poluição global da água industrial.

 

Consumo de água excessivo, emissões poluentes e produção de resíduos são algumas das razões que levam a indústria têxtil a ser classificada como uma das mais poluentes do mundo. Além disso, depois da agricultura, a moda ocupa também o segundo lugar do pódio da utilização de água a nível mundial. No entanto, as preocupações ambientais dos consumidores das gerações mais jovens estão a forçar mudanças.

 

De acordo com o Moody’s Investors Service, a indústria da moda utiliza 10% do abastecimento industrial total de água e os têxteis de acabamento são responsáveis por 20% da poluição global da água industrial. Os peritos da indústria estimam mesmo que o impacto ambiental da indústria se agravará até 2030 e triplicará até 2050 devido à crescente procura dos mercados emergentes.

 

Para fazer face à descarbonização da indústria, as empresas terão de adaptar as suas cadeias de abastecimento. De acordo com a empresa de consultoria McKinsey, 61% das poupanças de emissões que a indústria pode fazer estão dentro do ciclo de produção.

 

O impacto ambiental tem início logo na produção das matérias-primas, tendo em conta que a produção de algodão requer enormes quantidades de água para crescimento e processamento. Os cientistas preveem que as necessidades de consumo de água excedam o abastecimento até 2030.

 

Os fabricantes globais de vestuário enfrentam novas pressões de rentabilidade à medida que se adaptam ao crescente escrutínio dos clientes sobre as suas práticas ambientais e sociais, diz a Moody’s Investors Service sobre a indústria do vestuário.

 

Consumidores mais preocupados com sustentabilidade

À medida que os consumidores começam a ter cada vez mais consciência que a indústria de têxtil e vestuário é das mais poluentes do mundo, escrutinam também cada vez mais as normas ambientais das empresas, a pegada ambiental e o tratamento dos trabalhadores do setor. É esperado que a mudança de comportamento do consumidor crie mais pressão competitiva, mas também mais oportunidades de crescimento.

 

Os consumidores das gerações mais jovens estão despertos para as preocupações de sustentabilidade e analisam os produtos antes de efetuarem uma compra. De tal forma que estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. Face a esta tendência, as empresas de vestuário irão ter necessidade de aumentar o investimento na qualidade do produto e em materiais sustentáveis.

 

De acordo com o relatório da Moody’s Investors Service, à medida que o poder de compra dos jovens aumenta, estas decisões tornar-se-ão motores significativos de mudança. “A mudança de comportamento entre consumidores ambientalmente e socialmente conscientes irá colocar mais pressão competitiva sobre as marcas de moda globais para se adaptarem às medidas de sustentabilidade. A longo prazo, fatores ambientais e sociais colocarão em risco a rentabilidade da indústria do vestuário”, disse Guillaume Leglise, analista no Moody’s Investors Service.

 

As empresas de moda terão de se adaptar à sustentabilidade, investir na descarbonização e aumentar a transparência do sourcing para se manterem competitivas. A Alemanha, por exemplo, em 2019 introduziu a marca de certificação “Green Button” para têxteis produzidos social e ecologicamente. O governo francês está agora também a considerar uma etiqueta obrigatória em cada peça de vestuário que incluiria informação sobre o impacto ambiental da sua criação.

 

Em Portugal, a fileira da moda representa 11,5% das exportações portuguesas e quase 12 milhões de toneladas de resíduos têxteis vão para aterros todos os anos. Este setor é o segundo maior consumidor e poluente da água, com os processos de produção a emitir CO2 e outros gases de efeito de estufa. Mais de 99% da roupa que é deitada fora pode ser reciclada e reutilizada, mas mais de 85% acaba nas lixeiras.

 

Para o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, “começa a aparecer um consumidor com novos valores e com maiores preocupações ambientais (…), mas ainda estamos longe deste ser o consumidor que representa a nossa sociedade de consumo, a qual, neste momento, valoriza maioritariamente ou o preço ou a associação a uma ou várias marcas”. O líder da associação destaca ainda que “na Europa e, em particular, em Portugal a indústria têxtil é uma das mais regulamentadas do ponto de vista ambiental”.

 

Marcas apostam em matérias mais ecofriendly para atrair consumidores

As marcas estão gradualmente a introduzir materiais mais amigos do ambiente nos seus produtos, tais como algodão orgânico e novos fibras à base de celulose. Em 2019, a Zara anunciou que irá fabricar todos os seus produtos a partir de tecidos 100% produzidos de forma sustentável até 2025.

 

De acordo com este relatório da Moody’s, as grandes marcas internacionais como a Hennes & Mauritz AB, Nike, Adidas, e empresas de luxo como a Ralph Lauren tendem a sair-se melhor. O maior escrutínio das práticas sustentáveis irá criar desafios para a qualidade de crédito de muitas empresas de vestuário globais, e transformar a forma como fazem negócios.

 

Todavia, existe o outro lado da moeda. As marcas de moda a preços mais baratos são as que correm maior risco de pressão competitiva à medida que a sustentabilidade se torna mais importante para os consumidores, embora estes continuem a ter um bom desempenho em termos de vendas.

 

Apesar do interesse crescente na sustentabilidade, a acessibilidade de preços e a necessidade dos consumidores acompanharem as tendências da moda continuam a ser as principais razões para uma compra, sendo que o fator sustentabilidade não se reflete necessariamente no comportamento real dos compradores. A título de exemplo, os meios de comunicação social no verão do ano passado revelaram más práticas laborais da Primark, que vendem vestuário muito barato, a alguns dos fornecedores britânicos. No entanto, mesmo com este alerta as vendas no retalhista britânico de moda Boohoo aumentaram 40% nos quatro meses até dezembro de 2020.

 

Dada a sua taxa de crescimento atual, a indústria do vestuário consumirá 25% do orçamento mundial de carbono até 2050, de acordo com a Fundação Ellen MacArthur. Isto significa que sem uma mudança significativa, é pouco provável que o setor cumpra o limite do aquecimento global estabelecido pelo Acordo de Paris.

 

FONTE: Sapo.pt

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