Marcas de luxo apostam em moda consciente para ajudar planeta e lucrar mais4 min read

Todos os anos, o mercado da moda movimenta cifras na casa dos bilhões de dólares, vendendo sonhos e tendências dos mais variados preços e qualidades. Produzir cada vez mais rápido e nem sempre da maneira mais correta, do ponto de vista socioambiental, é um traço marcado desse segmento que, nos últimos anos, passou a buscar caminhos diferentes, olhando para o consumo consciente.

Foi pensando nisso que várias marcas perceberam a necessidade de criar soluções para aumentar o ciclo de vida das peças de roupas, tendência que já chegou, inclusive, aos segmentos premium e de luxo. Desde o ano passado, a Arezzo&Co. se uniu com a startup TROC — que existe desde 2017 como um brechó online — abrindo no mercado premium a oportunidade de difundir o conceito da moda circular.

“A nossa cultura não incentiva o reuso das peças, somos direcionados a comprar sempre que surge uma nova tendência sem pensar no que está por trás disso. A TROC vem apresentar essa possibilidade também às clientes de marcas de alto padrão como Schutz, Anacapri e Baw Clothing, que compõem o grupo Arezzo&Co., ajudando a dar um ciclo de vida maior a cada peça que seria descartada ainda em boas condições, ou que estava esquecida nos armários”, explica Luanna Toniolo, cofundadora e CEO da TROC.

Na prática, a TROC está ajudando a levar a prática dos brechós também para o ambiente das marcas de alto padrão. Hoje, quando um cliente compra em uma das lojas do grupo Arezzo&Co., recebe um convite para enviar seus desapegos para a TROC, onde os itens são higienizados, fotografados e vendidos com tratamento personalizado.

Depois, a cliente recebe parte do valor das vendas, conforme determinado nos termos de uso do site. A aceitação do público e os resultados sustentáveis foram tão bons que, desde o ano passado, os artigos de luxo já correspondem a 50% do faturamento da empresa, criando novas possibilidades para o mercado da moda circular.

De acordo com estimativas do setor, neste ano a marca vai celebrar a economia de 1 bilhão de litros de água com esta iniciativa. “Além disso, evitamos que mais de 160 mil toneladas de roupas fossem enviadas para o aterro sanitário com a doação voluntária para ONGs de peças que não venderam, e estamos com metas agressivas na redução de emissão de carbono nos próximos anos”, avalia Luanna.

“A quantidade de lixo têxtil que produzimos, com o descarte de roupas feitas de poliéster e outros plásticos derivados do petróleo, traz um alerta para consequências inimagináveis”

Giovanna Nader, comunicadora socioambiental

O grito da moda

“A moda impacta o meio ambiente de diversas maneiras e com questões muito urgentes”, explica a comunicadora socioambiental Giovanna Nader, que recentemente lançou o livro “Com que roupa? Guia prático de moda sustentável”, pela editora Paralela.

Segundo Giovanna, é impossível separar o mercado da moda da crise climática, uma vez que o setor é responsável por 8 a 10% das emissões de gases do efeito estufa no mundo, além de poluir rios com compostos químicos usados no tingimento de tecidos.

“A quantidade de lixo têxtil que produzimos, com o descarte de roupas feitas de poliéster e outros plásticos derivados do petróleo, traz um alerta para consequências inimagináveis, pois prevemos que eles não se decomponham pelos próximos 400 anos”, alerta.

Giovanna, que também é criadora do Projeto Gaveta, uma plataforma online que promove eventos de moda circular e a conscientização sobre estes assuntos, acredita que são iniciativas como essas que fazem a diferença no mercado da moda. “Precisamos entender que, ao comprar e descartar desenfreadamente, também somos responsáveis por estes impactos no meio ambiente”, explica.

A moda transforma

Além de ditar tendências, a moda traz consigo transformações sociais. Luanna lembra que somos movidos por exemplos, e que hoje a geração Z consome muito mais rapidamente, por gatilhos desencadeados pelas redes sociais. “Hoje vemos celebridades, como a cantora canadense Dua Lipa, aderindo aos brechós. É por meio desse caminho que podemos influenciar milhares de pessoas a fazer o mesmo”, diz.

Foi pensando nisso que, há alguns anos, a TROC celebrou a primeira parceria paga com uma influenciadora e conseguiu vender mais de 120 peças em meia hora no site. “Depois disso, muitas clientes e influenciadoras se juntaram a nós, formando uma comunidade sólida e ecologicamente responsável”, conta.

A moda circular também contribui socialmente, segundo Giovanna Nader, ao trazer à tona empregos que estavam esquecidos pela sociedade, como a costureira, a bordadeira, o alfaiate e o artesão, que podem dar cara nova às roupas que estavam guardadas. A consciência social dessa geração também começa a aparecer em marcas que estão surgindo com propostas mais sustentáveis ao usar materiais orgânicos, como a fibra de coco e de cogumelo, na sua produção. “É um investimento alto, mas que certamente vai trazer muitos ganhos no futuro”, comenta Giovanna.

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