Moda étnica: o que é e como aderir4 min read
A discussão de que a moda ocidental não deve ser vista como um padrão toma cada vez mais corpo. Afinal, desde que os primeiros arqueólogos encontraram vestígios de elementos estéticos de outras civilizações, começou a surgir o que chamamos hoje de moda étnica.
O conceito de etnia é relacionado à antropologia, a ciência que estuda o homem em todos os aspectos. Daí é possível entender parte da complexidade da moda étnica, que procura representar os elementos estéticos no vestuário de determinados grupos que compartilham o mesmo espaço territorial, linguagem, crenças, valores, hábitos culturais e saberes em geral.
Assim, o mundo da moda acabou pegando emprestado esse conceito antropológico como uma forma de celebrar a diversidade, resgatar identidades e, de um certo ponto de vista, mostrar um pouco da complexidade do próprio ser humano.
É preciso entender que não se trata de apropriação cultural. Quando é feita com ética, a moda étnica nos ajuda a nos reconhecermos dentro de um contexto. Além disso, a moda é a expressão da sociedade, seja ela brasileira, indiana, africana, ocidental ou oriental, grande ou pequena. E é a integração entre as sociedades, o entendimento e a valorização de suas diferenças que podem tornar o mundo um pouco mais harmonioso.
Mas como é a moda étnica?
De um modo geral, a moda étnica é tão vasta quanto a quantidade de expressões culturais ao redor do globo. A ideia é levar para a passarela essas referências estéticas, uma coisa que começou a ser feita desde a integração dos primeiros exploradores com povos até então desconhecidos.
É o caso dos turbantes, por exemplo. Acredita-se que tenham começado a ser usados no Oriente muito antes do Islamismo – como símbolo de fé ao Sikh indiano e também de status social dos indianos.
Já na África, os turbantes são elementos estruturais da cultura e têm uma representação diferente de acordo com a amarração. E aqui mesmo, no Brasil, são usados como uma afirmação da identidade cultural trazida pelos escravos africanos, além de símbolo de resistência contra o racismo e o preconceito.
O avanço histórico do comércio entre Oriente e Ocidente facilitou as trocas culturais, ajudando a popularizar o turbante no mundo da moda europeia nas décadas de 20 e 30.
Nos anos 70 foi a vez da paixão pelas roupas indianas, em muito devido à colonização da Índia pela Inglaterra. Mas também ao movimento hippie, que via as peças mais fluidas, as estampas florais e psicodélicas como uma expressão de paz e do amor.
Seja como for, não há uma temporada em que a moda étnica não esteja presente nas passarelas, ajudando a divulgar culturas, a transmitir mensagens e a integrar os povos.
Consciência e sustentabilidade
Essa vertente do mundo fashion também está relacionada ao despertar da consciência e com a sustentabilidade. A moda étnica brasileira, por exemplo, é vasta – isso se pensarmos só na diversidade indígena que abrigamos nesse país de dimensões continentais.
Ao levar para a catwalk elementos tipicamente brasileiros há uma divulgação do nosso passado, da formação do povo e da luta pela sobrevivência cultural dessas comunidades. Dessa forma, ao trabalhar símbolos milenares, de uma certa forma o estilista está promovendo um despertar da consciência coletiva.
Por outro lado, muitos redutos de mão de obra local se mantêm em produção com os saberes passados por gerações. A integração da moda étnica às araras do streetwear, por exemplo, gera renda para comunidades inteiras, garantindo sua sustentabilidade.
Na outra ponta, o próprio processo artesanal que caracteriza a moda étnica original é mais amigo do meio ambiente. Assim, muitas marcas de pequenos empreendedores mantêm os pilares da produção sustentável, valorizando o trabalho de artesãos locais e reduzindo o impacto ambiental.
Como fazer moda étnica
As referências estéticas podem vir de praticamente qualquer parte do planeta. Seja dos esquimós da Antártica, do Japão ou de Marrocos, a moda étnica precisa ser ética, incorporando elementos que enriqueçam o look, mas que não sejam usados como fantasia.
Desta forma, a moda étnica pode ser usada para compor roupas e acessórios para qualquer ocasião. Yves Saint Laurent e Emilio Pucci, por exemplo, incorporaram referências da moda da índia, mas também da África, Rússia, Marrocos e Espanha para criar suas coleções de moda nos anos 70.
Assim, antes de produzir moda étnica é preciso compreendê-la, estudar seu contexto, sua história, a mensagem por trás dos símbolos, o porquê das cores.
Apenas a partir de uma conexão interna com a moda étnica que pretende produzir é possível criar uma coleção de moda relevante e ética, conectando pessoas e culturas ao redor do planeta.
Fonte: Haco