O uso de algas marinhas na moda sustentável ganha destaque em 20233 min read
O uso de algas marinhas na indústria têxtil não é de hoje, mas com o avanço da discussão ao redor de moda sustentável, com novas tecnologias surgindo a cada instante, a alternativa se tornou uma potência para 2023.
Em mais uma pesquisa sobre os comportamentos de consumo, a WGSN, agência que prevê tendências na moda, beleza e comportamento, apontou a solução à base de algas marinhas como algo para se ficar de olho nos próximos anos.
E quem assina embaixo é Thamires Pontes, cientista de moda, fundadora e CEO da Phycolabs, empresa de biotecnologia, que desenvolve tecnologias sustentáveis à base de algas marinhas.
Por que o uso de algas marinhas promete? Ela explica!
odo tecido, ao confeccionado, tem uma matéria-prima e é aí que as algas marinhas entram.
Diferentes de componentes sintéticos, como poliéster e nylon, elas possuem características ecológicas e sustentáveis, já que são biodegradáveis. Segundo Thamires, a moda é só uma das indústrias onde as algas podem ser usadas: “Elas não atuam apenas na indústria têxtil, mas em todas as outras, desde alimentos, agricultura… Tem também o biocombustível.”
“É uma matéria-prima que a gente pode aproveitar para tudo.”
É comprovado, por artigos científicos, que algas marinhas são os organismos com maior taxa de reprodução da Terra. Naturalmente, elas possuem também propriedades que protegem a pele e absorvem instantaneamente nutrientes, ideais para tecidos.
“E ela não deixa resíduos, isso que é o mais legal. A mesma alga colhida no intuito de extrair o líquido para fazer o biofertilizante, pode ser aproveitada na indústria têxtil. É um ciclo fechado essa matéria-prima.”
Elas serão cada vez mais utilizadas para criar fibras, espumas e materiais de baixo impacto. Através do seu trabalho com a Phycolabs, Thamires deseja desenvolver o trabalho com algas ao ponto de transformá-lo em uma indústria.
A cientista diz ainda qual o papel do Brasil nesse cenário, já que nós temos 8 mil quilômetros de costa, onde se encontra algas marinhas por toda ela. No Nordeste, devido à temperatura da água, a taxa de crescimento é maior. Já no Espírito Santo é onde se tem maior variedade de espécies:
“Esse cultivo acontece a partir de comunidades Caiçaras, algumas poucas pessoas hoje ainda têm a licença do IBAMA para esse cultivo.”
Marcas, artistas e estilistas já estão em movimento com a tendência. A Adidas, por exemplo, em parceria com o rapper Kanye West, criou um modelo da linha Yeezy totalmente sustentável, feito à base de algas.
Esses organismos já estão sendo usados como matéria-prima em alguns calçados casuais, substituindo opções à base de petróleo em solados de espuma.
“Existe demanda. Como tudo que envolve moda em 2023, as pessoas estão procurando soluções mais sustentáveis, desde não usar mais couro, evitar o uso de poliéster… Acho que principalmente a Geração Z já procura isso.”
Thamires explica também que não é apenas uma conversa sobre sustentabilidade, mas também de socioeconomia. O ideal é desenvolver produtos de qualidade, por um valor acessível, para todos.
“Não existe planeta B. A moda ainda é muito ligada à futilidade, ao look do dia… Mas vestuário é uma necessidade básica. Quando a gente se esforça para fazer essa fibra em escala industrial, é porque, dessa maneira, conseguimos abaixar o custo.”
“É como dizia Chico Mendes: ‘falar de ecologia sem luta de classe, é jardinagem’.”