A evolução do comprador da indústria têxtil nos últimos 2 anos5 min read
O ano de 2022 está aí, começando melhor do que o anterior e com expectativas ainda maiores, já que acumuladas.
E para a indústria de eventos que está retomando e assumindo novamente o seu importante papel na economia como gerador de receita, vislumbro um caminho promissor de crescimento e criação de valor. Mas é claro que, no decorrer dos últimos 2 anos, a sensação foi bem diferente.
Sem querer descrever todas as dificuldades que passei como profissional e pessoa comprometida com as obrigações assumidas, quero compartilhar como consegui transformar frustração em energia para encontrar novos caminhos e não desistir.
O fato é que a única certeza que eu tinha na época em que me conformei que a pandemia seria uma catástrofe para os eventos presenciais, era a de que eu não tinha mais nada para entregar.
Não tinha feira para realizar, não tinha feira para visitar, havia centenas de contratos a serem analisados e no pior contexto de insegurança jurídica que já vivenciara.
Foram alguns meses experimentando essa rotina até surgir a ideia de virar o jogo, de fazer algo novo e me tornar expositora de um evento presencial do setor para o qual trabalhava.
Mas o objetivo não se limitava a representar o Febratex Group como já havíamos feito em outras feiras internacionais. O momento era diferente e necessitava de algo mais.
Pensei: por que não apresentar a indústria têxtil brasileira? Por que não ser o agente para internacionalização dos expositores e visitantes de todas as feiras do Febratex Group?
Era um novo caminho que surgia e assim criei a Way2tex. Foi a oportunidade perfeita para unir num só lugar, dois mercados para os quais trabalhara há quase duas décadas.
O passo seguinte foi conversar sobre o projeto com alguns empresários, visitantes e compradores das feiras, que prontamente acreditaram no meu potencial e enviaram amostras do Brasil a Portugal, além de prontificarem-se a me dar aulas sobre composição, estrutura e processos. Que mundo novo e gigante que se abriu! Tão grande, quanto complexo.
Quando fomos participar do primeiro evento, em outubro de 2020 ainda, o medo e a coragem foram proporcionais, enquanto as minhas dúvidas eram imbatíveis.
Na 2º edição, em outubro de 2021, já me sentia mais segura e na 3º vez, já me sentia como a legítima embaixadora da indústria têxtil brasileira em Portugal.
Ter pesquisado sobre a cadeia produtiva do Brasil e entendido mais sobre nossas forças e fraquezas, me permitiu enxergar além de cada solução apresentada e pude, por fim, perceber mais sobre estratégias e modelos de negócios inovadores.
Dessas experiências como expositora de produtos têxteis brasileiros em uma feira para o mercado europeu, consegui analisar a evolução do comportamento do visitante comprador.
Já se ouvia e falava muito sobre sustentabilidade na indústria têxtil e o Brasil sempre como um país protagonista em recursos naturais. E essa foi a nossa bandeira.
Os visitantes que entravam no stand na primeira edição se encantavam com os produtos expostos: algodão orgânico, tingimento natural, desfibrados… tínhamos uma gama de produtos e processos para apresentar, mas as perguntas eram mais superficiais e a preocupação maior, ao eu ver, era em relação ao resultado e preço.
Para a nossa segunda participação, me preparei mais para entender como os processos eram feitos e assim conseguir explicar melhor aos visitantes interessados nos produtos, visto que sabíamos que cria-se muito mais valor a um produto fabricado com menor impacto ambiental.
Ocorre que, para a minha surpresa, a régua de avaliação dos visitantes subiu muito e além de perguntas relacionadas ao “como é feito” surgiram questões sobre “do que é feito”.
Quem estava interessado em malhas, por exemplo, perguntava de onde vinha o fio. E quem queria saber do denim, questionava de onde vinha o algodão.
Enfim, os visitantes estavam bem mais criteriosos e preocupados com a transparência da cadeia de fornecimento do que antes.
Essas experiências foram todas compartilhadas com os expositores da Way2tex e acredito que as informações e tendências colhidas de um mercado maduro como o europeu possuem um valor inestimável para o planejamento dos negócios.
Com isso, consegui resgatar a relevância que eventos presenciais de negócios possuem, mesmo na pandemia e, simultaneamente, acredito que contribuí para construir um caminho para a internacionalização da indústria têxtil brasileira.
Foi um aprendizado muito valoroso e que também despertou em mim um novo senso crítico, pois, conhecendo a complexa cadeia produtiva da indústria têxtil e com uma análise de consumidora, percebi que não pode só ser possível uma empresa dizer que faz, é preciso exigir transparência do processo e segurança ao consumidor final que compra o produto.
Eu acredito que, da mesma forma que percebi a evolução nos últimos 2 anos do comprador de uma feira têxtil no sentido de buscar informações mais profundas sobre produtos e processor, o consumidor também passará a se questionar mais sobre a procedência dos produtos têxteis e aquelas empresas que se já posicionarem como mais transparentes terão saído na frente e estarão mais preparadas para atender o consumidor do futuro, irreversivelmente conectado.
Fonte: Economia SC